sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Comunicação sem alma pequena

Com vocês, meu segundo artigo no REDCAST, da RedCafé Comunicação (já estou me sentindo em casa):

COMUNICAÇÃO SEM ALMA PEQUENA
26/09/08

ANDREI BASTOS

O avanço que a causa das pessoas com deficiência está vivendo, assim como outros movimentos sociais, oferece uma boa oportunidade para também progredirmos na compreensão de como deve ser a comunicação para o terceiro setor nos dias de hoje, em que as organizações da sociedade civil interagem por meio das redes virtuais da internet e ganham qualidade e velocidade inéditas na sua atuação.

As pessoas com deficiência, mesmo ainda longe da cidadania plena, conquistaram significativo espaço na mídia, internacional e nacional, principalmente depois da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, aprovada em dezembro de 2006 e que teve grande repercussão política no mundo e em nosso país. É desse exemplo que podemos extrair alguns ensinamentos.

Antes, durante e depois da Convenção, os militantes trabalharam a comunicação de uma forma totalmente engajada, visando informar e conscientizar a sociedade das suas questões, absolutamente sem nenhuma isenção, colocando-se com paixão nos relatos dos acontecimentos ou nas análises, estas rigorosamente tendenciosas. Poderíamos dizer que isso não tem nada de novo, que a política sempre fez assim, como nos casos clássicos do nazismo e do stalinismo. Acontece que o diferencial está justamente em que, ao contrário dos políticos, que geralmente usam as ferramentas de comunicação para manipular as pessoas de forma dissimulada, esta militância de hoje assume a comunicação como atividade-fim e não como meio ou instrumento, como arma tão poderosa quanto as leis na luta contra o preconceito e a discriminação e pela sua emancipação. Sem disfarce.

Aliás, essa prática reafirma de maneira irrefutável que o direito é construído nas lutas sociais e não nos tribunais e que a sociedade não pode se furtar à atividade política, pois ela é o único meio de se construir o mundo melhor com que nós todos sonhamos.

Mas, para quem aprendeu nas escolas e redações a trabalhar a notícia com distanciamento e imparcialidade, esta comunicação quase passional pode parecer estranha. Nada indica que tenha outro jeito. Indo mais longe, sem nunca chegar à passionalidade, os fatos relacionados ao exemplo escolhido nos ensinam que no terceiro setor não podemos jamais fazer propaganda enganosa. Além disso, deixam claro que o sucesso é daqueles que são “mais realistas que o rei” e não fazem nenhum tipo de concessão, como demonstrou o processo da ratificação da Convenção da ONU pelo Brasil, deflagrado em reunião dos militantes com deputados na Câmara Federal.

A trajetória desse tratado internacional no Brasil, onde obteve equivalência de emenda constitucional, mostrou que a complexidade e a interatividade das redes virtuais, com a circulação permanente de uma quantidade gigantesca de informações, criaram uma situação em que nunca foi tão verdadeiro que em um minuto é possível destruir o que foi construído em dez anos. A arma para isso, mais do que nunca, é a comunicação. Da mesma forma, ela também é a ferramenta, mais eficaz do que nunca, para a construção dos nossos sonhos, como demonstrado pelas votações expressivas obtidas pelos defensores da ratificação no Congresso.

Para finalizar este artigo e como mais uma lição desses episódios recentes, podemos observar que nos processos de comunicação das lutas sociais, nos nossos dias de pouca ou nenhuma privacidade, cada vez existe menos espaço para incoerências, falsidades, intrigas e outros comportamentos de almas pequenas. As almas têm que ser tão grandes quanto as causas. A comunicação também.

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