quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Por tudo quanto é canto tem brasileiro comemorando o 20 de Novembro, dia Nacional da Consciência Negra no Brasil e devagarzinho este agito se alastra

Berlim, Colônia, Londres, Hamburgo, Nova Iguaçu, Pindamonhangaba, Arraial da Ajuda, Niterói, Pequim, Rio de Janeiro, São Paulo, Washington, Harlem , Johanisburg, Luanda, Maputo, Lisboa e mais e mais e mais....
Por tudo quanto é canto tem brasileiro comemorando o 20 de Novembro, dia Nacional da Consciência Negra no Brasil e devagarzinho este agito se alastra pelo "resto" do mundo.

Brasil que nos últimos 508 anos tem como seu maior produto de exportação cultural e filosófica, que é a miscigenação racial, começa a mostrar sua cara.

O Brasil que exportou os produtos de sua escravidão boazinha para o mundo ocidental, e a imagem de um país moderno, onde todos tem os direitos iguais no arco-íris multiracial para o "resto" do mundo, começa a se olhar nos espelhos de suas entranhas.

O Brasil que vendeu a imagens de seus "selvagens" para reis, rainhas e papas, começa a olhar sua cara de "bugre", e tira devagarzinho a roupagem do engano e do genocídio.

Isso é bom, isso é gostoso, dói um pouco como apertar um carnegão, mas o prenúncio do alívio nos faz apertar e exigir mais.

Nosso presidente da república vai ao Paço Imperial no dia de Zumbi de Palamares, anistiar simbolicamente o herói da revolta da chibata, João Cândido , na figura de sua estátua a ser inaugurada depois quase um século de vai e vem, prisão, tortura e desprezo.

Isso é bom, isso dá alívio lágrimas nos olhos, mas é pouco, queremos mais. Queremos ver o Brasil de todos se juntar a todos os "outros" amontoados nos porões do silêncioso racismo.

Esse é o nome minha gente que tem que ser falado, racismo.
Não se acaba com uma praga sem dar o nome a ela. O sol tapado com uma peneira começa a mostrar a cor marcada em nossas consciências.

Isso é bom minha gente, isso é bom demais , começar a reconhecer que não é o sapato e sim o calo que dói. Está na hora de arrancá-lo. Não dá para esperar.
Quase todo mundo gosta de feijoada e samba, e a maioria não dispensa uma mandioca e quando pode não dispensa uma tanguinha ou se mirar com suas miçangas indígenas no espelho.
Todos ou pelo menos a maioria dos brasileiros adoram os negros e os índios. Batem nos peito de orgulho por em algum momento de suas genealogias terem tido um pé na cozinha, ou uma avó caçada a laço.
Êta amor bêsta, e danado de bom, e safado!

Queremos mais deste amor pela gente, pois chega da acordar das festas com o sabor de fel na bôca e com a barriga roncando de fome de ser pessoa humana completa.
Queremos ver os que dizem amar os negros e índios do Brasil, arregaçarem as mangas prá fecharem este fosso que nos mantém distantes uns dos outros depois dos tres dias de carnaval, quando voltamos para os subúrbios do dia a dia, enquanto vocês se sentam a matutar porque a vida é tão sem sentido, e o mundo tão cruel.

Nós não temos mais tempo a perder com suas tristezas existenciais e perguntas sobre a origem genética do bicho homem, pois somos obrigados a cada dia a massagearmos nossas almas e barrigas, com o nosso riso para nos encaramos e continuarmos a dizer que somos bichos humanos.

Nós nunca tivemos dúvida de que pertencemos à humanidade.

E é esse o produto que temos a vender neste mundo "pósracial" e neoliberal" (as duas grandes mentiras do 3°milênio), o produto que é termos mantido nossa humanidade e individualidade, mesmo debaixo do ferro e fogo do racismo e neoracismo que teimam em não reconhecer nossas existências, como agora se fala no Brasil do preto lá das América, que é tão bom que já é branco.

Nós queremos compartilhar nossas dúvidas sobre o que é melhor para o Brasil e mundo com todos, pura e simplemente com todos.

O primeiro passo é reconhecer o racismo que nos atinge a todos, pois o racismo é uma máquina de mão única , eliminatória e genocida. O racismo começa elimando o branco “standard” em sua humanidade, e chega até as entranhas de todos os "outros", que mesmo para se defenderem assumam esta via de mão única que é o negar a si mesmo.
Desde que somos um bicho com consciência não há mais desculpas, pois matar o outro é sempre matar uma parte de nós mesmos.

O segundo passo que levará a caminhos que nem imagino, é botar junto as mãos na frigideira para arrancar as soluções para vivermos juntos em paz e igualdade, o que talvez não seja tão complicado pois já estamos acostumados a conviver no medo, ódio, distância e desconhecimento do outro nestes 508 anos.

Eu continuo de braços abertos e vou continuar assim, talvez por ser um sonhador ou já cedo ter sido infectado pelo vírus da liberdade espalhados no Quilombo de palmares e pelos revoltosos contra a chibata.

E prá não ficar só na falação já começo propondo à comunidade de brasileiros na Alemanha e à Embaixada Brasileira que tenhamos uma uma representação dos interesses dos negros e indios brasileiros na Embaixada Brasileira de Berlim. Pode ser um início para que o Ministério da Igualdade Racial no Brasil, comece a fazer um plano Marshal/Zumbi, para que todas os ministérios e as empresas brasileiras tenham um ouvidor par acompanhar a integração destas minorias majoritárias no sistema de trabalho, educacional e de poder no Brasil.

E prá não ficar só no oficial, que cada um brasileiro comece a perguntar porque é que não tem nenhum indio ou negro em qualquer direção associação esportiva, cultural, religiosa e econômica.
E pra garotada das escolas privadas, que comecem a perguntar prá onde é que foi o “neguinho” simpático que nunca sentou ao seu lado nas escolas de elites.

E já sugiro um nome para esta campanha sem prazo pra terminar:
Cadê eles?

pois bem asé e mãos a obras e vamos dançar para pensar com o mix de nossa parceira a Rádio Sacy, lá de Berlim.
http://www.mixwit.com/ras_adauto/new-mix
marcos romao
jornalista e sociólogo

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